domingo, 27 de fevereiro de 2022

Memórias – Eu, Portugal e o Estrangeiro – Parte 2

Em Setembro de 2012, faz agora 7 anos, fiz uma viagem à China durante 3 semanas aproximadamente, dentro de um contexto de Residência Artística. Esta não foi a primeira vez que tinha ido ao estrangeiro mas acabou por ser a primeira vez que fui num contexto “adulto” e “profissional”. Na ressaca dessa viagem o rompimento com uma namorada, o retorno com uma outra e a partida para França em Janeiro de 2013, atrás desse amor e desse sonho, e foi assim que me encontrei pela primeira vez verdadeiramente emigrado.

A vida num subúrbio parisiense durou 10 meses, durante esse tempo os mais variados trabalhos (falarei sobre experiências profissionais num próximo capitulo) e uma exposição individual no Centro Cultural LaClef, em Saint-Germain-en-Laye. Ao fim desse tempo e visto a minha companheira ter tido uma oportunidade de voluntariado na Turquia, decidimos largar tudo, juntar os dinheirinhos e partir então, para essa nova terra, o sul da Turquia. Ela tinha 7 meses de serviço de voluntariado e eu apenas 3 de Visto. Passei o Inverno Turco em woofing numa quinta e regressei a Lisboa, sozinho, no início de Fevereiro desse ano, ela, por lá continuou ate Junho.

Por esses tempos a minha amiga Isabel tinha-me falado da possibilidade de me arranjar trabalho na empresa onde ela trabalhava em Londres, para onde acabei por partir nesse verão de 2014, após uma nova separação “conjugal”, encontrava-me agora após muito tempo, só, de novo, comigo mesmo. ( NOTA: não vou falar aqui das razões que levam a separações de casais, nem coisas do foro privado... quem me é mais próximo conhecerá certamente as pessoas e as histórias envolventes… quero simplesmente enquadrar e contextualizar as sucessivas idas e voltas…)

E foi essa nova vida em Londres que acabou por mudar completamente o rumo da minha vida, foi a confrontação com essa nova solidão, (mesmo tendo sido prontamente envolvido de novo entre amigos e amigas que me foram essenciais e de quem guardo as melhores memorias).

Foi (na minha perspectiva) a confrontação com essa cidade gigante e a insignificância do Homem, a poluição, o barulho, a violência da informação, a ilógica da Cultura, o descalabro e a desigualdade social, da sociedade, o cinzento, o caos, o surreal. Foi neste contexto que criei as minhas tiras de Banda Desenhada do Zé Pintor, o expurgar de todo esse niilismo, a minha salvação e a consciência de ter que sair da cidade!

Londres foi a tomada de decisão de nunca mais viver na cidade, da escolha de partir para o campo,  de procurar a família, o retorno às raízes, à terra… sai de la fará agora 5 anos neste fim de Setembro. Voltei a Lisboa e sabia para o que vinha. Procurei a minha família, e o meu irmão Tiago. Com ele parti, fizemos 3 meses de apanha da azeitona em pleno inverno Transmontano, entre Macedo de Cavaleiros e Bragança, numa pequena aldeia de 300 pessoas, longe de tudo e todos.

Com o dinheiro amealhado nesses meses, cruzamos a Espanha e a França, apanhamos o Ferry ate à Córsega, estávamos em Fevereiro de 2015.

Nessa ilha conheci, a Camille minha companheira e mãe do meu filho Gabriel, aí nascido. Mudamos para o sul de França vai fazer 2 anos, depois… Logo se verá!!!

Portugal para trás ficou, a família e os amigos, eles existem sempre dentro de nós… o estrangeiro, nunca foi necessidade, foi sempre escolha, guiada talvez pela crença no Amor, acabou por ser assim, e a minha escolha continua a ser essa, o Eu, o Ser, esse, aprendeu com o tempo a estar um bocado mais em casa, consigo mesmo, o Eu, o Ser, será sempre um estrangeiro, é no olhar de estrangeiro, é em sair do conforto, do círculo, que descobrimos um Mundo Novo, não será isso uma coisa assim tão portuguesa?


Publicado originalmente no Facebook a 6 de Setembro de 2019

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