segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Elias e o carro de Fogo

 

Já faz algum tempo que nada tenho escrito por aqui, certamente porque tenho muito mais que fazer na vida do que andar a escrever textos nas redes sociais, no entanto esses textos, permitem-me por vezes não só limpar a mente de algumas ideias como também (e é esse o meu primeiro objectivo) passar essas ideias ou mensagens a quem os lê, no caso de hoje, sobre algo que tenho vindo a fazer ao longo do ultimo ano, isto é, a escrita do meu primeiro livro.

Terminei então a escrita desse meu primeiro livro, intitulado “Elias e o Carro de Fogo”, um livro escrito com uma intenção inicial, que se foi moldando durante o tempo, uma espécie de um ensaio romance, um pouco de ficção e muito de auto-biográfico (não fosse a auto-análise uma das melhores terapias para vencer o ego, esse problema cronico dos artistas), mas avançando, um relato de um pai e as suas problemáticas na vida, o percurso da sua família ao longo dos nove meses de gravidez, com mudanças de casa, trabalhos, lugares, doenças e outras situações no caminho da mudança e na busca da felicidade.

Tinha como intenção primária que este livro funciona-se como um exemplo, que mesmo nestes dias obscuros que temos vindo a viver, que com esforço e dedicação podemos mudar o nosso próprio caminho e que nada poderá deter essa vontade, e que outro exemplo poderei eu dar melhor do que aquele que eu conheço melhor, o meu, tendo escrito este livro entre as cinco e as seis da manhã antes de ir para a minha rotina de trabalho ao longo deste ano de 2021, ele está pronto, finalizado, à espera somente de editora que o pegue (isso, será tratado no devido tempo, mas aceito sugestões). Nada disto é presunçoso, não quero aqui vangloriar-me, ou dizer que faço e aconteço e isto e aquilo, quero simplesmente fazer-vos saber que é possível, mostrar que se pode continuar a sonhar, que se pode mudar o rumo dos acontecimentos, com força de vontade e coragem, e com muito trabalho, como a galinha, grão a grão, dotados de uma dose infindável de paciência e benevolência para com isto tudo, como diria um outro filho de Deus (perdoai-os meu pai, porque não sabem o que fazem!).

Bom, voltando ao assunto, de salientar que o segundo livro já está programado e logo, logo, começará a ser escrito, por agora tenho outros afazeres e prioridades, mas cada coisa no seu tempo, escreverei qualquer coisa por aqui, ainda antes do fim do ano, talvez previsões para 2022, até lá ainda muita coisa vai rolar (como dizem os brasileiros), deixo-vos então, assim, com um pequeno excerto que acho particularmente bem conseguido, espero que gostem, um abraço e até já.

 

“Nunca pensei que ser pai viesse a ser isto, às vezes acabamos por nos comportar como crianças, completamente embriagados nas brincadeiras e nos risos dos nossos filhos, abraçar, dar beijinhos, mudar fraldas e morder as bochechinhas e as perninhas e rir como um idiota com o seu sorriso, dar-lhes banho, amor e a papinha à boca, e não dormir noites e noites, ouvir chorar e mais chorar, ficar com os nervos à flor da pele, desesperar e embalar e transportar a eles e a mais vinte mil coisas às costas, sacos e carrinhos de bebé, roupas, brinquedos, tralhas e começar a ver os primeiros passos e correr atrás, dobrado para servir de apoio ao caso de se desequilibrar e ter medo, muito medo, medo que caia, medo que se aleije, medo que sofra, porque nós sofremos também, medo que se engasgue, medo que morra, porque qualquer acidente com as crianças pode ser fatal, e se ele morrer, nós morremos com ele e todo o nosso sonho é destruído, mas mesmo assim vamos continuando, enfrentando esses medos de dia para dia porque não temos outra escolha a não ser fugir, mas se fugires já não és pai, e onde anda o amor e a doçura? Onde anda a poesia? E agora já anda, já corre, já salta, já fala, já grita e canta, já vai à escola e o tempo passa, mas os seus olhos continuam a brilhar alegria e inocência e tu só o queres proteger, que ele continue assim, que ele não perca essa alegria e essa inocência própria das crianças, esse olhar, que ele não sofra o que tu sofreste enquanto cresceste e enfrentas-te a vida, que dói, e os desgostos de amor e as amizades e a escola e as lutas e o trabalho e as frustrações próprias da vida, e todas essas coisas que vão construindo em ti um muro de betão, de resistências e medos face à vida e aos outros, mas não há volta a dar, tens que os enfrentar, és obrigado a fazer cair o muro que te separa dos teus sentimentos e emoções e aproveitar ao máximo cada segundo da vida, cada momento que tens com ele, mesmo quando chegas a casa derreado do trabalho e só queres dormir e descansar e ele vem e não te deixa, salta-te em cima e se não aproveitares agora, aproveitarás quando? Quando ele for mais velho e partir? Sim porque um dia todos partem, quando ele já não quiser brincar com o seu pai? Quando o relógio do tempo indicar as horas da velhice e ele já não for o menino pequenino que é, quando viver numa outra casa quem sabe, quando ele já não estiver lá, quando ele já não estiver aqui, poderei eu olhar para trás e dizer que fiz tudo o que podia por ele? Por nós? Por mim? Tentarei.”



Publicado originalmente no Facebook a 3 de Dezembro de 2021







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