domingo, 27 de fevereiro de 2022

Arte - Politicas Culturais e Afins

 

Tenho nestes ultimos tempos considerado sobre a utilizaçao da minha pagina de artista para comentar certas noticias da atualidade sobre os mais diversos temas. Esta indecisao prendia-se sobre os fundamentos da minha pagina enquanto veiculo promotor do meu trabalho artistico, e nao propriamente como uma pagina de propagacao de ideias "politizadas", diremos assim. Ora, constata-se que a propria criacao artistica é, em si mesma, um acto politico, e isto abre-me assim a porta a este tipo de accoes, em mais, e estando eu numa fase onde as condicoes para a criacao artistisca estao estagnadas, nao posso renunciar ao meu cerebro que continua a trabalhar.

Estes comentarios que poderei vir a fazer sao assim pontuais, aleatorios e centrados em temas especificos, neste caso em particular, politicas culturais, arte etc, etc...

Indo agora ao assunto de uma forma mais objectiva e contextualizando:

No passado mes de Dezembro uma obra de um artista portugues conceituado foi vandalizada; essa obra tinha sido adquirida por uma camara municipal por 300.000€ e consiste numa instalacao de vigas metalicas verticais cortando a linha do horizonte num passeio pedonal; e foi vandalizada com inscricoes a spray que remetiam para o valor da mesma.

Posteriormente o artista visado teve ainda espaco num jornal publico para "explicar" o seu trabalho e de certa forma justificar o investimento da CM.

Ora isto sao assuntos dos quais em nem me deveria dar ao trabalho de pronunciar mas, vou aqui deixar algumas consideraçoes, visto que no meio artistico, ha ainda muita gente que aprova este tipo de politicas e que continua a considerar-se culturalmente e intelectualmente superior à restante populacao:

Metendo-me eu na cabeca de um qualquer portugues da norma (entre 600 e 800 euros por mes) e sendo eu por exemplo habitante desse municipio, ao passar pela escultura, a primeira coisa que me viria a cabeca era isto:

a camara gastou 300000€ nesta merda? Sim... porque é isto que as pessoas pensam! (Nota: longe de mim desacreditar a obra, ela é o que é, e existe enquanto tal, e é, obviamente valida)

Como é obvio, este acto em vez de aproximar a populacao da arte so a afasta! As pessoas nao sao obrigadas a compreeeder o mercado da arte nem os seus valores absurdos! Se fosse uma entidade privada, tudo bem, (faz o que quer do seu dinheiro) agora uma CM? Para pagar este preço deve ter as contas em dia, diz o artista!

Mesmo tendo as contas em dia, é obviamente um mau investimento, e porque? porque este tipo de arte nao valoriza (ou alguem ira um dia dar mais de 300000€ para comprar a instalacao?) porque a nivel de servico publico e politica cultural é nulo, nao cria dinamicas de aproximao das pessoas à arte e à cultura, so as afasta e repulsa dado o valor principesco com que o artista foi remunerado e nao vendo o cidadao comum qualquer utilidade publica no objecto em si! é esse paradigma que tem de ser mudado, e nao, nao é com este tipo de politicas que mudara! e nao, as pessoas nao sao burras nem ignorantes e veêm muito bem que estao a ser burladas!

Acredito que esses 300000€ poderiam ter sido utilizados de uma maneira muito mais benefica e consequente para o desenvolvimento cultural e artistico da regiao e é nesse ponto que os nossos actores politicos e culturais deveriam-se centrar! E visto falar de passeios marginais porque nao olhar para o ArteMar de Cascais, por exemplo? o valor desta obra pagaria à volta de 15 edicoes do dito concurso, ou convidar 30, repito, 30 jovens artistas a 10000€ cada um, a desenvolver trabalho para o municipio? que com certeza iriam aplicar-se para mostrar servico!

Como pensam as pessoas que vivem a maioria dos artistas, ou jovens artistas? entre tuktuks e supermercados, entre bengaleiros de museus e papelarias! Ou entao dançam entre professores universitarios e artistas (mas esses sao os confortaveis...) 10000€ anuais é um valor bem acima do ordenado minimo nacional.

Nao sera com iniciativas destas que poderemos dar oportinidades aos jovens e à populacao de ver trabalho e se sentir pertencente a um todo? de impelir o publico a interessar-se pelas obras?

Isto para me centrar unica e exclusivamente no patrocinio de artistas plasticos , sem querer entrar em teatro, danca, etc... qual o orçamento anual para a cultura de uma camara desta envergadura? Sera justificavel uma despesa deste tamanho para uma unica instalacao? Status quo? Lavagem de dinheiro?  Sao estas questoes que temos que pôr e nao a questao do é arte ou nao é!!! porque ai ja sabemos a resposta!

Sendo a meu ver, a arte um factor fundamental na mudanca de paradigmas e de pensamento na sociadade (para melhor) Nao sera criando condicoes de aproximaçao entre as pessoas, os artistas e a arte que poderemos acalentar um futuro melhor? Nao deveria ser do interesse politico e publico criar essas pontes entre o cidadao e os intervenientes culturais para aspirarmos a um pais mais culto, mais desenvolvido, mais rico!! A distribuiçao de riquezas em Portugal nao é obviamente equilibrada e enquanto nao se trabalhar para esse equilibrio, onde a cultura esta inserida, nao se pode exigir ao cidadao comum que aceite de animo leve este esbanjar de dinheiro publico!




Publicado originalmente no Facebook a 16 de Janeiro de 2020

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