terça-feira, 6 de setembro de 2022

Poesia

Já faz muito tempo que não pensava em poesia e enquanto me revirava às voltas na cama, veio-me ao espirito qualquer coisa parecida com isto que mais abaixo partilharei, no entanto, e como a preguiça é aliada do silêncio e no que toca a não acordar as crianças deixo-me sempre ficar, deitado, sem anotar aquilo que o meu espirito debita ao meu cérebro adormecido.

As ideias e os pensamentos chegam-me quase sempre por essas horas, quando se está numa espécie de limbo entre o sonho e a realidade, algumas, tento-as anotar num canto da minha cabeça para as materializar no dia seguinte, ou quando posso. Tento faze-lo com quase todos esses pensamentos que me chegam quando os acho belos ou pertinentes, de arruma-los num canto da cabeça, para depois, no entanto, a maioria, por falta de tempo e preguiça, ou talvez porque já não tenho cantos na cabeça para tantos pensamentos que chegam, voltam enfim para os confins do vazio quântico, como numa onda que passou, quem sabe se retornará, a mesma onda, de novo, mais tarde, mas, como no mar, novas ondas virão.

 Assim, na sequencia destas ideias veio-me este poema ao espirito, pouca coisa, mas que quis, na mesma registar.


Pergunto-me, que foi feito de mim neste mundo?

Porque me encontrei eu entre rios e montanhas, entre vales e mares?

é como se, se tratasse de um sonho, de um sonho profundo

e foi de me encontrar no meio destes tantos outros lugares

que descobri a chama ardente, que me queima a lembrança

a minha alma pendente, no sorriso de uma criança

e vim eu de la de longe, do meio das casas da capital

com voz tremula e rouca de ser Alfredo Marceneiro

descobrir aqui no meio das vacas e do olival,

que o meu sangue é de um outro poeta, um tal de Alberto Caeiro.

 

No entanto, e concluindo, havia algo de muito mais importante que tinha para exprimir, e que se sobrepõe a tudo isto, que é o facto de que nada poderá vencer o espirito de uma criança, que do alto dos seus seis anos ela respira poesia e vida em cada gesto e em cada reflexão, então, no outro dia o meu filho disse-me assim:

Et si la vie n'était qu'un rêve de dieu?

que poderemos nós responder a tal pergunta a tal poema?