Já faz muito tempo que não pensava em poesia e enquanto me revirava às voltas na cama, veio-me ao espirito qualquer coisa parecida com isto que mais abaixo partilharei, no entanto, e como a preguiça é aliada do silêncio e no que toca a não acordar as crianças deixo-me sempre ficar, deitado, sem anotar aquilo que o meu espirito debita ao meu cérebro adormecido.
As ideias e os
pensamentos chegam-me quase sempre por essas horas, quando se está numa espécie
de limbo entre o sonho e a realidade, algumas, tento-as anotar num canto da
minha cabeça para as materializar no dia seguinte, ou quando posso. Tento
faze-lo com quase todos esses pensamentos que me chegam quando os acho belos ou
pertinentes, de arruma-los num canto da cabeça, para depois, no entanto, a
maioria, por falta de tempo e preguiça, ou talvez porque já não tenho cantos na
cabeça para tantos pensamentos que chegam, voltam enfim para os confins do
vazio quântico, como numa onda que passou, quem sabe se retornará, a mesma
onda, de novo, mais tarde, mas, como no mar, novas ondas virão.
Pergunto-me, que foi feito de mim neste mundo?
Porque me
encontrei eu entre rios e montanhas, entre vales e mares?
é como se, se
tratasse de um sonho, de um sonho profundo
e foi de me
encontrar no meio destes tantos outros lugares
que descobri a
chama ardente, que me queima a lembrança
a minha alma
pendente, no sorriso de uma criança
e vim eu de la de
longe, do meio das casas da capital
com voz tremula e
rouca de ser Alfredo Marceneiro
descobrir aqui
no meio das vacas e do olival,
que o meu sangue
é de um outro poeta, um tal de Alberto Caeiro.
No entanto, e
concluindo, havia algo de muito mais importante que tinha para exprimir, e que
se sobrepõe a tudo isto, que é o facto de que nada poderá vencer o espirito de
uma criança, que do alto dos seus seis anos ela respira poesia e vida em cada
gesto e em cada reflexão, então, no outro dia o meu filho disse-me assim:
Et si la vie n'était qu'un rêve de dieu?
que poderemos nós
responder a tal pergunta a tal poema?