Muito tenho vindo a pensar sobre as cada vez maiores semelhanças entre a distopia de Orwell e a realidade que vivemos, no entanto, e antes de vos contar a história do aviador ucraniano gostaria de fazer um paralelo sobre uma passagem de 1984 que me ficou na memoria (a reler) e o presente momento em que vivemos. Ora se bem me lembro, e não querendo cair em erro, havia uma cena, ou uma ideia, em que a ração de chocolate é reduzida de um dia para o outro, e as pessoas nesse mesmo dia já nem se lembram que a ração de chocolate era superior no dia anterior, e que todo este tipo de medidas eram sempre tomadas pela segurança da população e do estado, ao mesmo tempo existem na história três potências mundiais que estariam constantemente em guerra (sempre guerra nas fronteiras e pelo que me lembro, acordadas entre eles) reduzindo de mais em mais as liberdades e direitos das pessoas, do povo (nota que este livro é também o livro onde o conceito de Big Brother é inventado, o Grande Irmão, que vê tudo e sabe tudo, de onde deriva esse magnífico programa de televisão) no entanto, e citando João Bernardo na contracapa da minha versão de 1984 publicado pela Antígona: “ Curioso percurso, o desta alegoria inventada para criticar o stalinismo e invocada ao longo de décadas pelos ideólogos democráticos, e que oferece agora uma descrição quase realista do vastíssimo sistema de fiscalização em que passaram a assentar as democracias capitalistas.”
No entanto, o que é que tudo isto tem a ver
com o aviador ucraniano, tem a ver que fruto da companhia diária dos meus
amigos romenos, obviamente e por várias e distintas razões como por exemplo a
simples geografia, estão bastante mais interessados do que eu nesta história da
Rússia e da Ucrânia, e vim, como dizia, a saber desta história de um aviador da
força aérea ucraniana, que quando foram dadas as ordens de pegar no avião e ir
para a guerra ele virou a sul e foi de jacto aterrar na Roménia, em Bacau, de
onde é um dos meus colegas, fugindo assim da guerra, desertando e era
precisamente neste ponto que eu queria pegar.
Se, e digo se, todos os militares russos se
recusassem a combater e a responder a ordens de malucos, pura e simplesmente
não haveria guerra, o mesmo vai para os militares ucranianos e para todos os
militares do mundo, se não houvessem militares para executar ordens como
poderia haver guerras destas? Se o presidente da república ou o teu patrão te
mandar saltar duma ponte tu tens sempre a escolha de recusar, obviamente que
podes ter que arcar com as consequências dessa recusa, mas se aqueles que forem
aplicar as sanções a essa recusa, se recusarem também eles de sancionar,
percebe-se onde quero chegar? E se o policia se recusar a servir a autoridade e
trabalhar para um governo corrupto e aceitar servir o povo que se manifesta? Nada
é mais do que uma questão de escolha individual, ganhando a consciência de que
todos somos um e que todos somos irmãos a recusa de matar ou de agredir torna-se
evidente, mas, é logico que é preciso ganhar essa consciência e a coragem de o
fazer. Se o aviador ucraniano ganhou essa consciência ou não, eu não sei, mas
sei que pelo menos ganhou medo pela vida e consciência que seria ridículo
morrer por cumprir ordens de tolos muito confortáveis nos seus cadeirões de
couro a fumar os seus charutos cubanos.
Tu, eu, nós, todos temos o poder da escolha, o
poder de aceitar ou não cumprir ordens, e o mesmo vai para a loucura do Covid,
para as escolhas politicas, alimentares e de consumo geral, por exemplo, és
contra a destruição da Amazónia, toda a gente o é, mas toda a gente continua a
comer carne primeiro preço alimentada com cereais, nomeadamente a soja que vem
e é responsável por essa mesma deflorestação, basta fazer a escolha de não
consumir (nota que 80% da soja produzida na Amazónia é para alimentar animais,
que por sua vez são criados para nos alimentar) boicotando o produto, boicotas
o sistema, cabe a ti e a todos de o fazer,
como os produtos da China, O MacDonald, o Aliexpress, a CocaCola, a
Amazon e etc, mas tem que se ter a consciência das consequências e aceitar que
não se pode continuar a viver da mesma maneira, as pessoas querem tudo, falam
de tudo, criticam tudo, mas a capacidade para agir, que está mesmo ao seu
alcance fica sempre para amanhã, metendo bandeirinhas da Ucrânia ou do “Je suis
Charlie”, ou do que quer que seja no perfil das redes sociais, e os Iémens e as
Somálias, e as crianças e isto e aquilo, onde andam? Vão com o buzz mediático?
A Maria-vai-com-todos? Não, não quero eu, na minha humildade pregar sermões ou
falsas morais, mas, eu tenho a consciência de que é preciso agir e parar com a
hipocrisia, que é preciso abraçar essas decisões e sim, eu tomo-as e eu
faço-as, como já tenho vindo a falar por aqui. Continuo a acreditar que o
boicote é uma das melhores armas que temos contra este sistema e citando Gandhi
“sê a mudança que queres ver no Mundo” tento faze-lo, o melhor que posso, e
acredito que a mudança virá um dia, esteja eu ainda aqui ou não!
Para concluir e voltando a 1984, qualquer
parecença entre esta distopia de Orwell e a realidade nada mais é que uma pura
alucinação de complotista, negacionista, brunista e mais uns quantos istas, e
sendo eu muitos desses istas, serei aquilo a que muito consideram ou chamam de
maluco, deixem-me então ser um maluco, portarei de bom grado o meu chapéu de
alumínio, protegido contra ordens alienígenas, serei e sou um maluco, mas um
maluco livre, livre e consciente das minhas escolhas e consequências das mesmas,
prisioneiro num mundo de malucos, sim, talvez todos eles, sem dúvida muito mais
malucos do que eu, mas deixem-me ao menos viver livre a minha loucura, às
crianças e a todos aqueles que querem ser verdadeiramente livres e não nos
queiram prender no vosso mundo!
Publicado originalmente no Facebook a 26 de Fevereiro de 2022