Caí, nestes últimos dias, sobre algumas noticias relacionadas com a ida do Papa a Portugal que me deixaram de novo a pensar sobre o estado da arte e por consequente da politica artística nesse nosso país à beira mar plantado. Fazendo já um tempo que não fazia considerações ou desenvolvia pensamentos sobre estes temas, aproveito assim o “swell” papal para surfar, também eu nessas ondas.
Como primeira vaga tubular a ideia de artista
do regime, esse artista, maioritariamente, ou pelo menos no seu inicio de
carreira, subvencionado pelo estado e que, aproveitando dessas vagas de exposição
visual que a praça pública lhe concede assim como dos fundos de diversas câmaras
e outras entidades estatais, acaba por não por em causa o próprio sistema no
qual se encontra desenvolvendo uma formula estética que funciona, e que
repetindo-a em ad aeternum não se inova e não desenvolve pensamento novo nem
critico quanto à sociedade e ao sistema opressor no qual se encontra a maioria do
seu povo, objecto ultimo para o qual deveria trabalhar, mais precisamente, a evolução
intelectual e espiritual num sentido abrangente, dos seus irmãos. Esse artista,
que aproveita assim dessas condições para enriquecer individualmente reforçando
as suas ligações para poder continuar a tirar proveito do próprio sistema
politico no qual se encontra e digamos, poder ter, como todos os ambicionam, uma
boa vida a viver da “arte”. Podemos encontrar vários exemplos desses artistas
em Portugal nomeadamente aqueles que, dentro desta teia, aceitam ir beijar a
mão de Papas, imaginando eles, no seu deleite, que são, no fundo, figuras
importantes da cultura portuguesa!
Ora bem sabemos que qualquer artista que se
prese, não poderia nunca, ir beijar a mão do Papa, primeiramente porque se quer
o artista independente e soberano sobre si mesmo, mas, sobretudo sabendo o que
representou e representa o peso da Igreja Católica no desmoronamento da nossa
sociedade e o peso que teve a instituição, não só durante os mais de quarenta
anos de Estado Novo, assim como durante todos esses séculos passados de
torturas e perseguições, mas pronto, mesmo assumindo que tudo isso são coisas
do passado, poderíamos pôr-nos questões relativamente aos abusos sexuais de
menores infinitamente escondidos e outras coisas mais, mais, em ultimo caso, poderíamos
sempre consideram obsceno o valor gasto pelo Estado nas estruturas e serviços de
toda essa brincadeira que se chama Jornadas Mundiais da Juventude e da recepção
do supremo pontífice. Tudo isto seriam razões mais do que suficientes para
refusar essa “honra” de ir beijar o sagrado anel, somente aceitando o acto se
fazendo como o João Pequeno do Robim dos Bosques de Walt Disney quando, ao
beijar a mão ao Príncipe João, lhe rouba os anéis.
E, tudo isto me leva à minha segunda onda, um tubo perfeito chamado Bordalo II e que, aparentemente desenrolou um tapete de notas falsas de quinhentos euros sobre o palco, onde o Papa celebrará a missa, temos pena que não seja Joao Paulo II e o seu “hoje fo dia santa, hoje fo dia de graça”, mas não podemos ter tudo, e voltando a Bordalo II, critica entao ele entao os gastos do estado dizendo assim: “ Num estado laico, num momento em que muitas pessoas lutam para manter as suas casas, o seu trabalho e a sua dignidade, decide investir-se milhões do dinheiro público para patrocinar a tour da Multinacional Italiana. Habemus Pasta” Tudo muito bem até aqui, esquecendo-se ele de dizer que o próprio estado, forneceu-lhe, segundo o Jornal Pagina Um (caso queiram ir ver as fontes) em cinco anos, ou seja desde 2018 nada mais, nada menos que mais de 700 mil euros em contratos de ajuste directo, ou seja, sem necessidade de recorrer a concurso publico para a sua realização, e isto parece-me, se não me engano, roçar um pouco a hipocrisia. Não quero aqui entrar numa discussão sobre a qualidade das obras de Bordalo II, acho bonito e bem pensado, mas também acho que entram no mesmo registo de Vhils (um dos artistas que vai lá dar o beijinho) e que entraram mais num regime de decoração de exteriores que propriamente no que deveria ser um regime de discurso artístico contemporâneo bem pensado, mas pronto! Uma das minhas primeiras crónicas neste novo formato falava precisamente sobre os 300 mil euros que Cabrita Reis recebeu por uma escultura em Leça da Palmeira. Dinheiros mal distribuídos criam artistas do regime, os outros, lá se vão aguentando a trabalhar no MacDonalds, é assim a vida no Portugal dos Pequeninos!
Para deixar uma ultima nota, deixarei aqui a
imagem de uma que eu também desenvolvi, há já uns 12 ou 13 anos atrás, quando o
salário mínimo nem sequer chegava aos quinhentos euros por mês e com isto um
gajo chega à praia.