terça-feira, 10 de maio de 2022

10 anos de escravidão e o Paulo Coelho

 Existe um livro também transformado em filme, escrito por um afro-americano que narra a sua experiencia enquanto escravo, ele conta como a sua vida de cidadão livre lhe foi arrancada no norte dos Estados Unidos para ser transportado e feito escravo nos Estados do Sul, nas plantações de algodão, isso durou 12 anos, até poder finalmente conseguir (no caso desta historia) se libertar.

Ora não poderei nunca fazer paralelismos sobre a escravidão a que foram e são ainda hoje submetidos os meus irmãos negros mas posso sim fazer um paralelismo entre esclavagismo (trabalhar à força, sem ser pago e sabendo que se recusarmos a sentença é a morte) com neo-esclavagismo (que é o que vivemos hoje em dia devido à estrutura híper-capitalista em que a nossa sociedade se encontra, trabalhar, ser mal pago, muitas vezes mal tratado e sobe pressão, e assedio moral, para poder pagar o mínimo necessário à sobrevivência) poderia aqui fazer uma dissertação sobre isso, condições de trabalho, dependência económica de todas as necessidades básicas do ser humano, alimentar, habitacional, etc, mas não é o caso, deixo isso ao critério de cada um, mas sabendo que se recusarmos jogar esse jogo a sentença é a marginalização, o que para Sócrates  vai dar à mesma coisa que a morte!

Posso também fazer um paralelismo entre esses 12 anos de Solomon Northup e os meus últimos 10 anos. Durante esse tempo vi a minha vida de “cidadão Livre” me ser “retirada”, os sonhos prometidos pelo sistema de ensino e pela universidade foram todos pelo cano abaixo, acompanhados de uma grande dose de papel higiénico e empurrados pela força da água ao primeiro puxão do autoclismo. Durante estes últimos 10 anos que separam a data de hoje ao fim do meu mestrado (onde por curiosidade um dos júris de tese afirmou que comigo seria o tudo ou nada) o nada (a nível profissional) foi prevalecendo até ao inicio deste mês de Maio. Foi, assim, que neste inicio do mês de Maio, tento, com ajuda da minha família e do Universo reaver a minha Liberdade. Tinha precisamente em Janeiro escrito um texto onde abordava um pouco este sujeito, no entanto o Mundo da muitas voltas e dei por mim com duas crianças em casa a mandar o trabalho às ortigas, já não dá mais para participar nisto, já não dá mais para alimentar esta gente, este sistema, esta loucura, está na hora de mudar e se não se conseguir, ao menos que morra com a consciência tranquila de ter tentado, sim, tentar então viver para a arte e por consequente da arte, viver para a transformação de um mundo melhor, construir sonhos e tentar a meu jeito ajudar nesta transformação tao necessária e inevitável.

E isto leva-me então até ao segundo ponto, a Paulo Coelho e à busca da minha lenda pessoal. Na realidade tive contacto com os livros de Paulo Coelho à muito pouco tempo atrás, não sei porquê mas sempre tive a ideia que havia uma espécie de recusa da esquerda às ideias e aos livros de Paulo Coelho, provavelmente ligada ao esoterismo ou teor vamos chamar-lhe religioso que compõe grande parte das suas obras e isso levou-me por ideologia a nunca o ter descoberto, no entanto posso afirmar sem receios que foi o mais impressionante e mais forte que li nos últimos tempos, a par de Bernard Werber (ler as Formigas e a Borboleta das estrelas), papei quase uma dezena de livros dele o ano passado, e obviamente o incontornável Alquimista.

Ora a grande ideia por detrás de Paulo Coelho tem a ver com a ideia de que cada um de nós tem a sua lenda pessoal para viver, uma espécie de propósito de vida, de objectivo de realização supremo e que nos cabe a tarefa de o alcançar, e isto leva-me ao meu estado, aos desejos e sonhos que tive e alimentei durante toda a minha vida, que flui no meu subconsciente, à intuição e ao sentir dentro de mim mesmo aquilo que posso vir a ser, aquilo que sou capaz de fazer e à coragem que é necessária para quebrar os paradigmas que te prendem, esses sim as verdadeiras correntes da tua escravidão.

Foi então neste sentido que tentei de forma amigável meter fim ao contrato de trabalho que me ligava a uma empresa de produção de vinho, (essa kármica beberagem que muito contribuiu ao meu envelhecimento e destruição precoce) coisa que não foi aceite muito amigavelmente pela gestão da empresa, no entanto as decisões estão tomadas, o caminho é para a frente e o que vier veio, que eu tenho uma lenda pessoal para viver e filhos para criar, sem medo não, que o medo existe, mas ele existe para ser superado e vencido. A liberdade está dentro da nossa própria cabeça e nós somos os criadores da nossa própria realidade, podemos fazer deste mundo e da nossa vida um paraíso ou um inferno, cabe-nos de escolher.

Terminando num tom de psicadelismo para acompanhar a imagem de progresso e futuro e citando um certo contemporâneo de Paulo Coelho:

“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”