Tinha, na minha última crónica, escrito sobre prever o ano de 2022, o meu, não o do mundo que isso é demais para mim, mas por força das circunstâncias o trabalho foi protelado até então!
Faz por esta data uns dez anos que terminei o
meu Mestrado em Artes Plásticas e meti-me na cabeça há uns meses atrás a ideia
de dar uma volta na minha vida profissional e finalmente poder vir a trabalhar
da arte, ( o mais próximo que estive disso foi: para além das performances
enquanto Pai Natal e duende em Óbidos, o trabalho que a Isabel me tinha
arranjado em Londres como técnico de manutenção e transporte de obras de arte) no entanto, por várias e
diversas razões decidi abandonar essa ideia a presente.
Porque será que alguém que investiu nisto,
mais de 10 anos da sua vida, sim, contanto no mínimo com o ensino secundário,
estaria agora, dez anos depois, próximo do seu objectivo, disposto a abandonar
a ideia de viver da arte, depois deste tempo todo? Ora porque eu não ambiciono
viver da arte, eu ambiciono viver para a arte, o que faz e é, uma grande
diferença, chamem-me um romântico, um utópico ou o que quer que seja! Eu
considero que a arte (a verdadeira) tem o poder de mudar as pessoas e o mundo e
é nisso que eu quero investir a minha vida, se isso depois der para eu viver
tanto melhor, se não azar, mas eu acredito na mudança e acredito (ainda) na
humanidade, acredito que esta Terra poderia e pode ainda ser o Paraíso, que os
homens têm um fundo de bondade e que transformando a mentalidade das pessoas
poderemos transformar o Mundo, e que a Arte tem esse poder de mudar
mentalidades.
Esta última passagem de ano permitiu-me voltar
a Lisboa, (desde antes da pandemia que não ia a uma cidade desse tamanho) e deixou-me
profundamente triste ver o condicionamento e o estado de alma da maioria das
pessoas que cruzei, lembro-me de estar no autocarro e ver toda essa gente
entrar com as mascaras na cara e os olhos vidrados, cinzentos, cansados. Não
farei, por hoje, morais quanto às politicas que têm sido tomadas para combater
esta “pandemia”, mas poderia deixar aqui algumas questões logicas e
obrigatórias sobre o caminho que temos seguido enquanto indivíduos e comunidade
e falar sobre engenharia do consentimento, controlo de massas, etc., mas
deixarei isso para uma outra vez, o que é certo é que isso também se reflete na
minha realidade e levou-me a mudar a minha estratégia para este novo ano.
Decidi assim seguir uma estratégia baseada no Taoísmo
e no conceito da não-acção, que significa mais ou menos que não agindo, ou
parando de agir, sem forçar e deixando que o mundo e a vida sigam o seu fluxo natural,
o que tiver que chegar até nós, chegará. Ora isso é mais fácil de dizer do que
fazer porque vivemos constantemente na angustia do futuro, do fazer e do
querer, no entanto decidi tentar abandonar esses sonhos e simplesmente deixar-me
levar pela corrente. Mudei assim de objectivos, aceitei a pena do trabalho e
centrei as minhas ambições na escrita do meu segundo livro, é esse, o meu único
projecto palpável para 2022, tudo o resto será, como se diz na giria, o que
Deus quiser!
Ora foi precisamente por causa do trabalho, que hoje, no meio das vinhas e dos meus
colegas romanos decidi e pensei esta crónica, começo a estar farto de estar
rodeado de brutos, de homens que só falam e desejam guerra e violência, que
veem as mulheres como objectos e que não pensam em nada mais do que a eles
próprios, sem a mínima noção de sociedade ou de todo, homens que ainda mandam
lixo para o chão, mas bom, sobre eles
farei a minha homenagem mais tarde, a quando de um livro que também já existe
na minha cabeça, faltando somente materializa-lo mas os pensamentos voam mais
rápido do que a luz e não tenho tempo para fazer tudo o que queria e gostava,
mas sim, como dizia, foi, no meio disto quem meti os meus auscultadores e dei
com o Dark Side of the Moon, dos Pink Floyd e fui enviado directamente para o
espaço, já não estava ali presente no meio das vinhas, não ouvia mais ninguém,
só aquela musica psicadélica, aquele arquétipo de beleza que me enviava para lá
do sistema solar, e pensava no
psicadelismo e que não é preciso drogas para viajar, o poder da mente é
suficiente, na realidade, o facto de não me querer injectar uma droga
experimental no corpo foi uma das razões de continuar nas vinhas, digamos que
já tive o meu período de drogas experimentais, onde sabia perfeitamente o que
elas me faziam ao corpo e à mente, era, de facto a mente, que eu queria
aniquilar, não o corpo, em relação a esta nova droga proposta recuso e com isso
aceito as consequências nomeadamente o que a ofertas de emprego e vida social
diz respeito.
A minha mulher, teve hoje, e não é a primeira
vez que o faz uma saída pertinente em relação a isso enquanto que eu me
enervava com os miúdos por causa das birras, dizia ela: “lá vais tu fazer o
filosofo para os outros quando é aqui em casa que o devias fazer, ou ser”, na
realidade tem razão, mas antes de me ocupar da minha casa tenho de me ocupar de
mim próprio, é lá dentro, dentro de mim que tenho primeiro que me limpar, ela
sabe, foi também, uma das razões dadas para continuar neste caminho, trabalhar
a paciência, a perseverança, aprender a aceitar o caminho escolhido, por mais
duro que ele seja, a culpa não é de mais minguem que não de ti próprio! Entretanto
estou a ficar velho e cansado, fiz 36 e parece que tenho 46, os cabelos caem, a
barba fica branca, as rugas formam-se no meu rosto e a pele endurece e nada
disto é obra do Sol!
O caminho traçado poderá sofrer desvios
abruptos e mudanças inesperadas, mas nós estamos aí, abertos à mudança, abertos
ao desconhecido, sem medos, sem receios, com alegria e amor!
Un emmerdeur!
Publicado originalmente no Facebook a 21 de Janeiro de 2022
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